7 de setembro - que data é essa?

Deixo abaixo um vídeo bem interessante e sintético da BBC Brasil (sempre eles!) sobre a efeméride de hoje.
Vários elementos desse vídeo já foram explicitados por mim aqui no FCBR (Off Topic) desde que o mesmo foi criado - afinal, sou um Historiador e educador profissional - luthiería e tocar baixo são atividades importantes em minha vida, mas não são principais.
Só um adendo: Desde o final dos anos 60 a historiografia brasileira trabalha esses pontos - nada do que está sendo dito neste vídeo é novidade para os Historiadores Profissionais (dentre os quais me incluo). Tampouco o é para estudantes de História de Instituições Universitárias sérias - algumas das quais tive o prazer de lecionar. Mesmo no 2º grau tais questões são debatidas em sala de aula tanto por mim, quanto por colegas com formação sólida.
O problema é que a estrutura do ensino e da formação de professores no Brasil foi geralmente piorando de 50 anos para cá, impedindo que tais conhecimentos chegassem ao alunado de forma aprofundada, até porque não havia esse interesse. Destaco também a "sobrevivência" de uma narrativa tradicional, podemos dizer "conservadora", positivista e ideológica, do processo histórico brasileiro que logrou manter-se ao longo do século XX e início do XXI, inclusive com tentativas à-históricas de tentar reintroduzi-la nos dias atuais com os mesmo objetivos ideológicos de sempre.

Excelente tópico, Bertola.
Interessante notar que desde sempre nossas elites, em troca da manutenção dos seus privilégios, preferiram servir aos interesses da Coroa à apoiar um projeto desenvolvimentista nacional. Esse comportamento parece persistir até os dias atuais.. Abraço.

WHead escreveu:Excelente tópico, Bertola.
Interessante notar que desde sempre nossas elites, em troca da manutenção dos seus privilégios, preferiram servir aos interesses da Coroa à apoiar um projeto desenvolvimentista nacional. Esse comportamento parece persistir até os dias atuais.. Abraço.

Na verdade houveram momentos, tanto no Império quanto na República em que podemos considerar um direcionamento (nem sempre uma política deliberada) no sentido do que podemos chamar de "nacional-desenvolvimentismo" - mais precisamente após a 2ª Guerra Mundial de forma mais incisiva (aliás, é nesse mesmo período que o conceito de "Nacional-Desenvolvimentismo" é cunhado). De uma forma ou de outra esses períodos ou são superados pela conjuntura externa (da qual a Economia Brasileira é dependente), ou sua solução de continuidade se dá via conjuntura interna (embora o fator externo sempre esteja presente). É um movimento cíclico que está relacionado nãoa penas ao caráter cíclico do Capitalismo, mas também em relação às questões internas.

Show !

Complementando com esse ótimo Roda-Viva, com a Historiadora Lilia Schwartz:

Se tem o teu endosso, tá mais que aprovado. Estou percebendo um contra ataque com a produção de mídias com curadoria, tentando minimizar o efeito nocivo da internet e seu lado obscuro.

Ivanov_br escreveu:Se tem o teu endosso, tá mais que aprovado. Estou percebendo um contra ataque com a produção de mídias com curadoria, tentando minimizar o efeito nocivo da internet e seu lado obscuro.

Sim Ivanov, esse contra-discurso, contrário ao autoritarismo atávico da Sociedade Brasileira - que já existia antes, mas encontra-se submerso em tempos recentes - está começando a se rearticular. É uma tarefa hercúlea...
A entrevista acima, da grande Profª Lilia, é fundamental para começar à entender a conjuntura atual.

Muito bom o tópico Bertola , verdadeira aula...

O Brasil ficou independente em 2 de Julho de 1823.

allexcosta escreveu:O Brasil ficou independente em 2 de Julho de 1823.

Na Baêa...

Brincadeiras à parte, essa coisa de "data" é algo bem superado na historiografia contemporânea.
Eu mesmo dei aulas para meus alunos da universidade demonstrando que, de todo o processo, 7 de setembro é a data MENOS importante...

Se uma parte do país ainda não era independente em 1823, o país não era independente.

Se SP fosse o último estado a se tornar independente de Portugal, essa seria a data oficial.

E lá o processo se deu com lutas mesmo, não com um acordo entre oligarquias.

Fiquei curioso com o vídeo que o Bertola postou, vou assistir logo mais.

Mas uma coisa é fato, tá pra existir retrato mais ridículo e romântico do que o quadro oficial da Independência do Brasil. Só perde para o Jesus loiro de olho azul que tem nas igrejas católicas:

^ Joãozeiro, iconografia é também discurso político.
Esse quadro, como muitos outros, é uma "construção ideológica"; construção essa que interessa a alguém.
Quase todas as imagens iconográficas de nossa História são isso aí: "Discurso"
Um dos exercícios que faço com meus alunos em determinadas disciplinas é esse aí: O que você vê nesse quadro? O que ele lhe "diz"? Como você se sente ao contemplá-lo?
Sem querer extrapolar minha área de atuação, o mesmo ocorre com a música...
De uma certa forma, o discurso do Allex "anti-rock" (eu, que o conheço pessoalmente sei que não é bem isso) tem muito de análise crítica antropológica...

allexcosta escreveu:Se uma parte do país ainda não era independente em 1823, o país não era independente.

Se SP fosse o último estado a se tornar independente de Portugal, essa seria a data oficial.

E lá o processo se deu com lutas mesmo, não com um acordo entre oligarquias.

Allex, para você ver como datas nada significam...
Você pode dizer também que a "data" da Independência é 1825, data dos acordo mediados pela Inglaterra de reconhecimento da mesma por Portugal...
Pode considerar 1815, ano em que o Brasil foi "elevado" à Reino Unido (embora ainda ligado à Portugal), sendo a capital do Império Português o Rio de Janeiro. Juridicamente (Direito Internacional), essa data é mais importante que o 7 de setembro de 1822...
Pode considerar 1826, ano da morte de D. João VI e em que D. Pedro abdica do trono português em nome de sua filha, separando a vaga do trono de Portugal e do Brasil...
Enfim. Percebeu?
P.S: A "Independência" (estou falando do processo e não de datas) FOI UM ACORDO DE OLIGARQUIAS...
Outro detalhe: Não havia um país ainda, nem em 1815, nem em 1822/3 e ainda não haveria por certo tempo ainda - Portanto... o fato da Bahia ainda estar sob ocupação militar portuguesa, não quer dizer muito.
Ademais, o fato de determinada região estar sob ocupação "inimiga", não quer dizer que não haja um sentimento de pertencimento, mesmo que difuso, a um todo - seja lá o que ele seja... o 2 de julho de 1823 é uma data como as outras... Nada mais...

Mauricio Luiz Bertola escreveu:Allex, para você ver como datas nada significam...

Não é isso exatamente que estou discutindo.

É claro que todos esses processos históricos se dão ao longo de meses, anos ou mesmo décadas e séculos.
Mas, oficialmente, existe uma data comemorativa, que normalmente é uma escolha política que representa muitas vezes um evento de menor importância.

Se eventos similares ao Ipiranga tivessem se dado na Bahia em 1822 e os de lá em SP um ano depois, a data oficial seria 1823.

allexcosta escreveu:

Mauricio Luiz Bertola escreveu:Allex, para você ver como datas nada significam...

Não é isso exatamente que estou discutindo.

É claro que todos esses processos históricos se dão ao longo de meses, anos ou mesmo décadas e séculos.
Mas, oficialmente, existe uma data comemorativa, que normalmente é uma escolha política que representa muitas vezes um evento de menor importância.

Se eventos similares ao Ipiranga tivessem se dado na Bahia em 1822 e os de lá em SP um ano depois, a data oficial seria 1823.

Talvez sim, talvez não...
Mas você acerta em uma coisa: Quem lidera o processo de Secessão do Brasil de Portugal (pois como eu demonstrei acima, era um Reino Unido), foram as Oligarquias de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo - que tinham objetivos semelhantes - e depois anexaram o restante do que hoje a gente chama de Brasil (Bahia, Pernambuco, o Grão-Pará e o sul)... E com boa dose de violência...